Por acaso, já ouviu falar da Rota Imperial? Não ficarei surpresa se a resposta for 'não'.
Na transição do século XVIII para o XIX, a exploração do ouro em Minas Gerais já não era tão rentável, pois as jazidas estavam esgotadas, ficando cada vez mais difícil e mais caro extrair esse metal precioso.
Sendo assim, a idade do ouro deu lugar a Idade do Ferro no estado mineiro. O minério de ferro passou a ser a bola da vez, provocando um “bum” de urbanização em Minas Gerais.
Na transição do século XIX para XX, a aposta da vez foram as ferrovias a fim de escoar o minério de ferro para os portos do litoral brasileiro, utilizadas também para o transporte de passageiros.
O destino final agora, não são os portos do Rio de Janeiro, mas os do Espírito Santo. Essa contextualização serve para evidenciar o legado cultural e natural que a rota, que ligava Ouro Preto - MG a Vitória - ES, deixou. A Rota Imperial é uma verdadeira viagem no tempo, na qual deixamos pra trás a arquitetura colonial barroca para dar lugar aos, não menos luxuosos, prédios do período imperial.
No entanto, a Rota é pouco conhecida e não há marcações se a compararmos à Estrada Real, embora nos deparemos com marcos somente em cidades do Espírito Santo. O trajeto tem como Marco Zero a cidade de Ouro Preto, uma vez que essa cidade, por muitos anos, foi o centro político do estado de Minas de Gerais.
Da belíssima Ouro Preto seguimos para Mariana, outra cidade importantíssima para a política mineira. Mariana ainda conserva casarios coloniais e igrejas barrocas. São 12km, aproximadamente, aliás, separando as cidades de Mariana de Ouro Preto.
Tivemos a oportunidade de passar por alguns distritos de Mariana, num percurso realizado através da antiga Estrada de Ferro, que possui estações alcançadas pelas memoráveis marias-fumaça. Eu sou apaixonada por estações, por representar, além das despedidas, o abraço do reencontro.
De Mariana, seguimos para Acaiaca, onde fiquei muito feliz de ver a antiga Estação Ferroviária muito bem conservada e tombada pelo patrimônio municipal. Atualmente, é onde funciona a Biblioteca Pública do município.
Além desses, é possível ver vários vestígios da malha ferroviária dessa época.
Mas, não é só de estações de trem bem conservadas que vive Acaiaca, lá também há cachoeiras, como a que fui ao encontro, como um anexo exploratório fora da Rota.
De Acaiaca - MG passamos por Ponte Nova, umas das maiores cidades do percurso e também uma das mais desenvolvidas em aspectos urbanos e econômicos. As construções modernas são resultado de uma rica agricultura e uma emergente industrialização. O nome da cidade é alusivo à ponte sobre o Rio Piranga, um dos afluentes do Rio Doce, que corre ao longo de quase toda a cidade.
Através da belíssima zona rural da cidade de Ponte Nova, partimos para Oratórios, mas é preferível e mais seguro fazer o trajeto pela rodovia. Pequena e charmosa, Oratórios dá acesso a Jequeri, uma cidade com muitas belezas naturais e outra riqueza mineira, o café.
As terras altas dessa região dão ao café uma qualidade ímpar. Chegando à região do Caparaó, aqui, por vezes, um circuito turístico esbarra em outros, deixamos as terras baixas e planas das antigas ferrovias para acessar as serras, e serras significam subidas.
Os altos e baixos do caminho levam a alguns distritos das cidades de Abrecampo e Matipó, predominantemente rurais, nos proporcionando belas paisagens, mas sem acessar atrativos turísticos. Recordo-me que esse trecho foi bem desafiador.
Nessa etapa do percurso eu estava machucada, pois havia me envolvido em um acidente de bike, ao ser atingida por um carro e fraturar a bacia. Os exames clínicos não detectaram a fratura, então achei que estava tudo bem e fui pedalando assim, mesmo quando a altimetria não aliviava. Pedalamos por cafezais nas cidades de Santa Margarida, São João do Manhuaçu e Manhumirim.
Esse infortúnio me deixou de fora do trecho em que atravessaríamos a fronteira entre MG e ES.
Então, não tive a oportunidade de passar pelas terras das cachoeiras de águas cristalinas, a cidade de Iúna. Mas, retomei ao trajeto em Conceição do Castelo, foi a primeira cidade em que avistei os marcos da Rota Imperial.
De lá, passamos pela região mais alemã do estado do Espírito Santo, o trajeto entre Venda Nova do Imigrante e Domingos Martins, que contém muitas subidas e que, além de ser muito bonita, tem um convidativo clima ameno.
A seguir, acessamos a região metropolitana de Vitória, até chegar ao nosso objetivo, o litoral. Uma experiência que vale a pena vivenciar.
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